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A comemoração de ano-novo em 1° de janeiro é invenção recente e a razão envolve o prepúcio de Jesus. Entenda.

Stonehange hoje Maiores de 60 Edílson Silvestre Desde que o mundo é mundo, ou desde que há história escrita, as comemoraçõe...



Stonehange hoje


Maiores de 60


Edílson Silvestre


Desde que o mundo é mundo, ou desde que há história escrita, as comemorações máximas dos povos ocorrem nos equinócios (o instante em que o Sol, em sua órbita aparente, cruza o equador celeste, ou em bom português, as ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo) e nos solstícios (que são os momentos em que o Sol, durante o seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador). 

Os equinócios ocorrem nos meses de março e setembro, definindo as mudanças de estação. Em março, o equinócio marca o início da primavera no hemisfério norte e do outono no hemisfério sul. Em setembro ocorre o inverso, o equinócio baliza o início do outono no hemisfério norte e da primavera no hemisfério sul. 

Os solstícios ocorrem por volta do dia 21 de junho e por volta do dia 21 de dezembro. O de junho é o solstício de verão no hemisfério norte e de inverno no sul. O de dezembro é o de inverno no Norte e de verão no Sul.


O mundo planta, colhe, come e comemora o fim do inverno



Equinócio de primavera no hemisfério sul

Há registros de comemoração do ano-novo desde a Mesopotâmia. E quando acontecia? No único momento “lógico” para qualquer civilização minimamente conectada com o cosmo, as estações do ano e à alguma forma de agricultura:  No equinócio de primavera, em março, marcando o fim do inverno e o início da primavera, tempo de plantar. Início de um novo ciclo. 

Então, nesse dia, ou melhor ao longo de 3 a 7 dias, a depender da civilização, em torno do dia 23 março, eram os dias de celebração do início de um novo ano. Em 2019, a data do equinócio de primavera no hemisfério norte foi o dia 20 de março. A data exata no calendário gregoriano, o qual adotamos desde 1582, varia em função do eixo de inclinação do planeta. Na verdade, a data está transitando da referência da constelação de Peixes para a constelação de Aquário. Sem papo de astrólogo. Puro calendário astronômico. 


Calendários a dar com o papa



O papa Gregório expurgou alguns dias nos meses de setembro e outubro de 1582 afim de ajustar seu calendário 

E por falar em calendários, começa aí a celeuma do ano-novo. Até 438 anos atrás, o calendário adotado pela Igreja Católica Romana e por boa parte do mundo conhecido era o juliano, decretado por Julio Cesar em 46 antes de Cristo. E foi justamente aí que o início do ano oficial passou a ser o dia primeiro de janeiro. Até então, o mundo romano iniciava (e comemorava) o ano-novo em março. No equinócio. Já depois de 46 aC... Nada mudou! Mesmo o ano oficial iniciando em primeiro de janeiro, o mundo civilizado seguiu comemorando, até recentemente, a virada do ano por volta do dia 20-25 de março. 

Como assim, “o mundo civilizado”, seu autor? Peço desculpas. Não é etnocentrismo. Estávamos nos referindo às civilizações sob a influência greco-romana, mas, em verdade, a proposta aqui era mesmo enfatizar a amplitude da compreensão dos diferentes povos sobre o que seja um ciclo de tempo completo nesse nosso planeta. Portanto, inclua aí na conta de "mundo comemorando o ano-novo no equinócio", o "mundo bárbaro". Afinal, os saxões também adotavam a prática desde tempos ancestrais. Está lá o Stonehenge desde 3100 aC, que não nos deixa mentir. Inclua também o "mundo desconhecido".O que dizer dos Astecas e Maias, por exemplo, os quais, sem contato algum com os povos de outros continentes igualmente seguiam a lógica solar para dividir o ano. Me considero redimido, mas a real é que havia (e há)... 

Povos pensando diferente


Na antiguidade, os povos dissonantes quanto a adoção do dia de ano-novo eram os que seguiam o calendário lunar, caso do povo Hebreu. O Rosh Hashaná, ano novo judaico, é comemorado em três dias. Em 2020 iniciará na noite de 18 de setembro e seguirá até o dia 20. Embora diferente do ano-novo com base nos equinócios, há uma compreensão igualmente natural. Não é uma convenção, como ocorre no calendário universal atual. 

Outros povos dissonantes conhecidos são os orientais do sul e os chineses. Seu calendário é, como o dos judeus, igualmente adotado até o presente.  O calendário Chinês, que embora carregue o seu lado místico com a determinação de bichos e significados astrológicos para cada ano, seguindo um ciclo convencional, baseia-se em uma construção considerando observações do sol e da lua, em conjunto. Guarda uma lógica natural, portanto. Não é canetada de nenhum líder religioso ou político.


Ano-novo chinês. Ano no dragão.


A Igreja criou a emenda pior do que o soneto

Pegando o fio da meada, voltamos a questão: Quando e por que o mundo passou a comemorar a passagem do ano-novo em primeiro de janeiro? Pois bem, como vimos antes, apesar dos esforços do líder romano Julio César, mesmo com o ano começando em janeiro, a virada do ano era determinada pelo equinócio de primavera, em março. E assim seguiu até a adoção do calendário gregoriano em 1582. E qual foi a razão da escolha do 1° de janeiro? 

Ah, meus caros leitores, ai é que a coisa fica mais esquisita.


Saturnália

Acredito que boa parte dos leitores saiba que a data de 25 dezembro, como a efeméride do nascimento de Jesus Cristo, não tenha qualquer embasamento histórico. É uma convenção. A Bíblia não estabelece uma data específica para comemorarmos o nascimento do Salvador, mas oferece claros indícios de que o fato não poderia ter ocorrido no inverno do oriente médio. Assim fosse, o menino Jesus teria virado picolé na manjedoura, desprotegida das intempéries; Ou o seu primeiro milagre já seria o lendário aquecimento temporário global. Tal peculiaridade climática estaria obrigatoriamente registrada na Bíblia, como está o misterioso aparecimento da Estrela de Belém. Em verdade, tudo indica que o nascimento de Jesus tenha ocorrido no fim da primavera ou início do verão, mas isso é assunto para outro texto.



Fato é que conforme registros religiosos, o 25 de dezembro é a data oficial do Natal, pelo menos, há 1.600 anos. Os que prestaram a devida atenção aos parágrafos anteriores, já perceberam que a data é relativa ao solstício de inverno no hemisfério norte. A festa marcando o início do inverno mais conhecida à época era a Saturnália mas, observem: essa era a festa cultural principal naquele momento histórico específico, dominado pela cultura romana. As comemorações do solstício fazem parte da cultura de outras civilizações desde tempos imemoriais. 

A Saturnália invocava o deus Saturno, mas a concepção da festividade, antes de ser oferecida ao deus romano estava vinculada ao final do ciclo agrário, com o início do inverno. A última colheita do ano já foi feita, dai por diante o solo iria congelar. Era o caso de se esperar a primavera (e o novo ciclo, ano-novo, em março). Havia também os hábitos de se trocar presentes (esse parece que ficou até hoje, não é mesmo? he he) e o de ser mais empático com as pessoas. Por exemplo, entre os mais ricos de Roma havia a tradição de se convidar os escravos da casa para o banquete dos nobres. Ou seja, caras e caros leitores: o tal espírito do Natal Coca-Cola de espalhar o amor já pairava no ar naquele tempo. E, por fim, havia um espírito carnavalesco misturado. Os banquetes começavam organizados, tipo nossa Ceia de Natal mas, como sabemos, os romanos eram dá pá virada. Daí, passadas muitas horas, muito vinho, começava a libidinagem e coisa e tal. 

Seja como for, nesse tempo, a Igreja Católica Apostólica Romana resolveu abrir competição à festa pagã celebrada entre os dias 17 e 25 de dezembro. Moralizaram a bandalha geral, deixaram só a parte família, chutaram Saturno e colocaram Jesus no lugar. 



E o ano-novo? Uma concessão impensável dos católicos romanos ao judaísmo.


Sério? Como assim? Explico: Obviamente, não adotamos o ano-novo judaico, mas convenhamos, se fosse o caso haveria uma lógica coincidente com a natureza e, também, sintonizada com a origem da fé cristã, como ramo do judaísmo. O que ocorreu, então? O seguinte diálogo fictício resume os fatos reais (Sim, eu sei. Ficou esquisito, mas vocês entenderão):

 - Os bispos e cardeais assessores do papaDia 1 de janeiro seria bom. Coincide com o calendário de Julio César. Fica mais fácil para o povo se acostumar e abandonamos as comemorações de equinócio de março, tão pagãs...

Papa Gregório XIII: - Não!  Nunca! Não vamos colocar azeitona na empada dos outros! Eu acabei de decretar um novo calendário. O da Igreja. O papal. O meu!

Bispos: E o paganismo, sua santidade? Precisamos fugir das festas de solstícios e equinócios e marcar a nossa presença.

Papa: Deixem de ser tolos! Tem coisa originalmente mais pagã do que o 25 de dezembro?

Bispos: Mais uma razão para dar uma disfarçada...

Papa: Alguém tem alguma ideia? 

Bispos: Santidade, Jesus não era judeu?

Papa: Silêncio condescendente.

Bispos: Então no oitavo dia de vida Ele foi circuncidado, não é mesmo?

Papa: Diz-se  bris milá. É a cerimônia religiosa dentro do judaísmo na qual o prepúcio dos recém-nascidos é cortado ao oitavo dia como símbolo da aliança entre Deus e o povo de Israel.

Bispos: Então, santidade... 25 de dezembro nasceu Jesus. 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31 de dezembro e, oitavo dia, 1 de janeiro.

Papa: Genial. Que fique a data em que cortaram o... Ops circuncidaram Jesus, a data de início do ano.



E, como diria Chicó: Só sei que foi assim!

Mas não de supetão. E nem pra todo mundo! 


A adoção do calendário gregoriano ocorreu segundo a influência do Vaticano. A adoção do novo ano-novo levou muito mais tempo. O foguetório da virada do dia 31 de dezembro para primeiro de janeiro só se consolidou mundialmente no século 18, anteontem, portanto. Na Inglaterra, por exemplo, incluindo todo o seu império “onde o sol nunca se põe”, até 1751, o ano-novo começava em 25 de março, data convencionada “fixando” o equinócio. Bom, lá é terra de reis e as majestades podiam até mandar ajustar o eixo da Terra, com os ponteiros do Big Ben.

Desculpem as minhas gracinhas e meu humor inconveniente.

Um bom ano-novo a todos!