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Com a volta às aulas, o que será dos avós que moram com os seus netos?

E se o governo liberar a volta às aulas? O que será dos avós que moram com os seus netos? Uma grande ameaça à vida de maiores de 60 ano...

E se o governo liberar a volta às aulas? O que será dos avós que moram com os seus netos? Uma grande ameaça à vida de maiores de 60 anos se agiganta com o fim do recesso escolar devido à pandemia


Maiores de 60
Por Danilo Fernandes


Nesse momento muitos avós estão em quarentena junto com os seus netos. Milhões de avós, na verdade. Para muitos, a opção de juntar as famílias em um único endereço foi uma decisão familiar afetiva para aplacar as dores emocionais do isolamento social. Contudo, para a esmagadora maioria dos casos, o fato de avós e netos estarem dividindo o mesmo teto nesse momento difícil é a realidade de todos os dias.

No Brasil, milhões de lares reúnem pais, netos e avós. De fato, em 25% dos lares brasileiro os idosos não apenas coabitam com seus filhos (ou netos), mas são o arrimo financeiro dessas famílias.  Essa é realidade, cada dia mais frequente no país, segundo dados do IBGE.

Há as famílias chamadas "tradicionais" que abrigam também os avós. São milhões delas. Mas cresce muito o que os pesquisadores chamam de nova conformação familiar brasileira. 


IBGE

Estatísticas revelam novas tendências nos arranjos familiares 


Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revelam que, desde 2005, o perfil composto unicamente por pai, mãe e filhos deixou de ser maioria nos domicílios brasileiros. Na pesquisa de 2015, o tradicional arranjo ocupava 42,3% dos lares pesquisados. Uma queda de 7,8 pontos percentuais em relação a 2005, quando abrangia 50,1% das moradias do país. 

Por outro lado, novas tendências ganharam força. Em 2015, por exemplo, quase um em cada cinco lares era composto apenas por casais sem filhos (19,9%), enquanto que em 14,4% residências só havia um morador.

Aqui está o perigo diante da pandemia 

Outra forte tendência, em especial entre os mais pobres é a família multigeracional. Avós que moram com filhos e netos. Netos que moram com os avós. O arranjo familiar pode incluir o tradicional, quando os pais moram com os filhos e seus pais ou sogros. Mas, em especial entre as classes mais pobres, a cada dia, se constata que os idosos são o principal arrimo financeiro da família.

Muito comum também são os netos que vivem apenas com seus avós, tendo nesses os seus tutores em virtude da ausência dos pais, por vários motivos incluindo divórcios, abandono e falecimento.

Com o aumento de laços de parentesco investigados pelo IBGE, de 11 em 2000 para 19 em 2010, foi possível ver a presença de netos nos lares brasileiros. O número surpreendeu: entre as pessoas residentes, 4,7% são netos. 
O Brasil possui mais de 69 milhões de lares. Portanto, em algo como 3,3 milhões desses lares os avós moram com os seus netos. 





Fatos que precisam ser levados em conta quando da adoção de perfis de isolamento social em combate a pandemia


O que irá acontecer com o processo de contaminação do coronavírus se a medida de retorno às atividades escolares preconizada pelo presidente Bolsonaro for efetivada?

Em 51, dos 69 milhões de lares brasileiros, a efetivação do isolamento vertical, isto é, com a quarentena apenas dos mais idosos e pessoas com comorbidades, não colocará os idosos em maior risco. Nesses 51 milhões de lares,  idosos, adultos e jovens não coabitam, sejam esses jovens, adolescentes ou crianças.  

Ou seja, em 75% dos lares brasileiros, os efeitos do isolamento social vertical poderá obter os mesmos resultados positivos do isolamento horizontal atual, admitindo que os protocolos da Organização Mundial de Saúde estejam certos, enquanto libera a economia do país a seguir se recuperando, sem causar um desastre de saúde pública. Desde que medidas sanitárias sejam tomadas para proteger os idosos!


Contudo, o que acontecerá nos 25% dos lares brasileiros em que os idosos moram com seus filhos e até netos? 

A liberação dos adultos para o trabalho é um risco até aceitável, tomadas medidas duras de proteção dos idosos que coabitam com os trabalhadores, como o isolamento por restrição de mobilidade na mesma casa, quando viável.   Entretanto, nos casos em que avós e netos crianças ou adolescentes coabitam, o retorno escolar é uma sentença de morte para os avós.


Imagem Agência Brasil EBC


Por que é tão perigoso o fim da paralisação escolar no caso dos 3,3 milhões de lares em que os avós e netos coabitam? 


Se estão corretas as recomendações da comunidade cientifica mundial e das autoridades sanitárias enfrentando essa crise em mais de 140 países, o perigo não é uma possibilidade, mas um fato estatístico aterrorizante: Esses idosos coabitando com crianças em idade escolar, muito provavelmente, irão contrair o corona vírus de seus netos contaminados nas escolas. 

No Brasil, estamos falando de milhões de lares sujeitos à massiva contaminação de maiores de 60 anos pelo Covid-19 com transmissão de crianças para idoso, o perfil mais funesto de contaminação verificada pela OMS. 

As crianças são, particularmente, mais susceptíveis a contrair o vírus, ainda que o mesmo não lhes seja letal. Entrementes, nesse momento, as crianças, em muitos casos assintomáticas e, portanto, sem que seus pais, ou elas próprias saibam, levarão a sentença de morte aos seus avós em suas casas próprias, se voltarem para a escola.


ABC News

O que faremos com esses avós vivendo com seus netos?

Não há dilema bíblico ou literário que descreva essa situação.  Entre a cruz e o punhal? Nem de perto define essa decisão. Não, prezados, retirar os idosos de suas casas e isolá-los em algum lugar (asilo, hospital, lar temporário, etc.) não é factível e, provavelmente sequer viável. Não caberia sequer aos pais tomarem tal decisão. É bom lembrar:


  • Em 35% dos 3,3 milhões de lares brasileiros em extremo risco, os netos vivem apenas com os seus avós. Não há outro responsável coabitando.
  • Em 25% do total de lares brasileiros em que vivem avós, filhos e netos – e aí já estamos falando de 25% do total de lares brasileiros (17,5 milhões de lares!), os idosos contribuem com 54% da renda do lar. São, portanto, os donos no dinheiro, quem vai sair de casa?



Medidas possíveis


Soluções precisam ser pensadas. Não há resposta para tudo. Contudo, algumas sugestões podem ser feitas nesse momento:

1) Em relação à volta às aulas, o Ministério da Educação poderia propiciar aos netos que vivem com os seus avós (3,3 milhões de lares) o acesso a uma plataforma de ensino à distância. O custo do investimento na geração de conteúdo não é alto, de fato há muito conteúdo já produzido por escolas particulares e pelo próprio MEC. Já o equipamento de acesso familiar (tablete ou notebook) pode ser fornecido pelo governo a não mais do que 33% desses lares, que eventualmente ainda não possuam os equipamentos de acesso à internet. Arredondando a conta com muita generosidade, considerando R$ 450, por equipamento, se comprado em escala, e uma subvenção governamental para o acesso à internet, estamos falando de algo como 500 milhões de reais para manter 3-6 milhões de estudantes vivendo com seus avós em tele ensino doméstico e os seus 5-6 milhões de avós devidamente protegidos. É totalmente viável, basta vontade política!

2) Em relação aos idosos que moram com os filhos, na eventualidade -imprescindível- de fim da quarentena generalizada, o governo poderia viabilizar um aluguel social para os idosos se mudarem temporariamente de casa, além da ajuda de custo já propalada pelo governo.  Outra boa medida seria a criação de hotéis temporários para esses idosos, desde que as condições oferecidas sejam compatíveis.

Vivemos um momento difícil. Devemos ser propositivos. Pedras só causam danos. Precisamos oferecer boas ideias. E vocês, o que acham? Comentem!


Para Maiores de 60, com exclusividade.
Por Danilo Fernandes
Economista. Profissional de marketing e pesquisa.