The New York Times KIRKLAND, Washington O dia mais difícil da vida de Debbie, de Los Angeles, nos Estados Unidos, foi o dia em que el...
The New York Times
KIRKLAND, Washington
O dia mais difícil da vida de Debbie, de Los Angeles, nos Estados Unidos, foi o dia em que ela colocou a sua mãe em uma casa de repouso. Isso foi antes do coronavírus.
Quando as infecções fatais de COVID-19 se espalharam pelo Life Care Center, um asilo ou centro de idosos, no subúrbio da cidade de Seattle, onde morava a sua mãe de 85 anos, Debbie tentou não se preocupar. As que enfermeiras estavam monitorando a temperatura da sua mãe e a tranquilizavam dizendo que ela não tinha febre, tosse ou outros sinais de infecção.
Contudo, às 4h15 da última terça-feira, uma enfermeira ligou com notícias preocupantes. Twilla Morin, a mãe de Debbie, estava com febre de 40 graus. As cuidadoras estavam lhe dando Tylenol. Pelo telefone, a enfermeira quis confirmar com Debbie a declaração que havia nos arquivos dos desejos de sua mãe de "não ser ressuscitada, em caso de parada cardíaca".
Mais tarde no mesmo dia, uma mensagem de voz arrepiante: "Acreditamos que a sua mãe contraiu o coronavírus". "Não cremos que ela consiga superar a doença."
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A mãe de Debbie que residia no Life Care Center de Kirkland. Crédito: Grant Hindsley para o NYT |
Mudar-se para um lar de idosos é uma escolha dolorosa para pais idosos e filhos adultos. Mas as famílias disseram que nunca imaginariam enfrentar uma crise de saúde pública nos corredores tranquilos e acolhedores aonde acreditavam que seus entes queridos estariam seguros.
Na semana em que o centro de enfermagem de Kirkland se tornou o ponto focal do surto de coronavírus no noroeste dos Estados Unidos, a vida cotidiana se transformou em uma agonia. Com as visitas restritas, as famílias agora ligam e pedem atualizações da equipe de enfermagem sobrecarregada.
Em desespero, as famílias se perguntam se devem forçar uma visita ao Centro de Idosos, arriscando a sua própria saúde e uma maior contaminação. Alguns querem que seus pais sejam transferidos para um hospital ou para uma instalação diferente, mas não têm ideia de quem cuidaria de pacientes frágeis, potencialmente expostos a uma doença mortal.
"Sinto-me mal por minha mãe estar morrendo sozinha", disse Vanessa Phelps, cuja mãe de 90 anos tem problemas respiratórios crônicos e mora na unidade há quatro anos. “É puro pânico e não posso fazer nada. Eu não tenho controle.
Algumas famílias telefonam duas vezes por dia para perguntar como estão seus pais octogenários e tranquilizá-los sobre as notícias alarmantes vistas pela televisão, muitas delas retratando, justamente, a crise ocorrendo ali mesmo, no Lar de Idosos que elas residem. Para os residentes mais idosos, a equipe projeta na parede bate-papos por vídeo online com seus filhos.
De fora do Centro, vimos uma mulher tentando se comunicar com sua mãe pela janela fechada. É como ver um navio afundar sem botes salva-vidas. "Estamos assistindo o naufrágio da praia e não podemos fazer nada", disse Alex Stewart, cuja avó de 95 anos mora no centro de enfermagem e está fazendo uma coberta para o bebê para o seu filho que está a caminho - seu primeiro bisneto. "É um sentimento de muita impotência."
Ninguém sabe ao certo como o coronavírus entrou no Centro de Idosos, um sinal sombrio de como essa doença pode se espalhar rapidamente nas casas de repouso.
Mesmo em meio ao intenso escrutínio da imprensa sobre o Centro de Idosos Life Care, as famílias disseram estar tendo dificuldade de obter informações acerca da situação dos diretores da instituição e das autoridades de saúde pública.
Muitos residentes, são 190 leitos ainda não fizeram o seu teste de coronavírus, disseram as famílias, mesmo quando eles e seus colegas de quarto começaram a tossir e a sentir febre. As famílias temem que o número real de infecções possa ser maior que o oficial. Eram 8 doentes oficiais no local até a última terça-feira e a suspeita de outros 14 casos.
Especialistas em doenças infecciosas dizem que os idosos, muitos dos quais com problemas problemas respiratórios, são particularmente vulneráveis ao vírus e têm maior risco de morte.
Em uma entrevista coletiva na quarta-feira, o Dr. Jeff Duchin, oficial de saúde pública em Seattle, disse que as equipes agora estão trabalhando para testar todos os residentes do Life Care para o vírus e pedem desculpas pelas falhas na comunicação.
Apesar disso, dia após dia, o desespero cresce para as famílias dos residentes mais doentes e fracos. A mãe de Bridget Parkhill, 77 anos, estava doente há quase uma semana no Centro de Idosos. Na quarta-feira, ela foi levada ao hospital depois que a tosse piorou e ela sentiu um peso no peito. "Estamos arrasados por ter chegado a isso", disse Parkhill.
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Um paciente foi transportado do Life Care Center de Kirkland. Crédito:David Ryder / Reuters |
Morin, mãe de Debbie do início da reportagem se mudou para a sua primeira casa de repouso a cerca de quatro anos atrás, depois que ela não conseguia mais ficar de pé ou andar sozinha.
À medida que sua demência se aprofundava, Morin às vezes se confundia pensando estar na sua cidade natal ou acreditando que sua única filha, era sua falecida irmã. O mundo dela no Life Care Center, onde ela morou por dois anos, se estreitou. Morin já não conseguia deixar a cama e ir de cadeira de rodas para a sala de jantar. Ela adorava uma xícara de chocolate quente à noite e cuidava de uma boneca como se fosse uma criança de verdade. Em momentos lúcidos, ela sabia lembrava dos netos, com orgulho.
No início da manhã de quarta-feira, em Los Angeles, Debbie acordou com uma nova mensagem de correio de voz da Life Care. A mãe dela havia falecido e, pior, por causa da "situação crítica" no centro de idosos, o corpo de sua mãe foi levado pelas autoridades sanitárias.
Eles tiveram que organizar a cremação de longe e não tiveram acesso aos pertences da sua querida, dado o risco de contaminação. Estivemos por lá há cerca de um mês, mas ainda questiono o que está acontecendo naquele asilo", disse ela a uma repórter: “Vimos os enfermeiros vestidos com roupas especiais e máscaras, mas anida assim o vírus se espalhou.