Já sabemos que o brasileiro cordial desapareceu sem deixar vestígios no final do século passado e, nas primeiras décadas desse milênio...
Já sabemos que o brasileiro cordial desapareceu sem deixar vestígios no final do século passado e, nas primeiras décadas desse milênio, nos especializamos em construir (e registrar nas redes sociais) o novo perfil do brasileiro:
Um ser humano beligerante em todas as suas diferenças (política, futebol, gênero, raça, idade, classe social, etc.); e portador de séria catarata social. Traduzo: um cidadão a cada dia mais cego para certas personas alijadas em nossa sociedade (mendigos, idosos, crianças carentes, funcionários subalternos, etc).
A manifestação da catarata social é tão absurdamente corriqueira que quando um ato de gentileza e solidariedade escapa a alguma pessoa sã, o acontecimento o transforma em comoção na internet.
Mas não comemore ainda o restolho de caridade que parece ainda dar sinais de vida na nossa sociedade! O acontecimento foi só um rápido regurgitar de solidariedade. Não despertou nenhuma mudança, apenas contribuiu para o entretenimento já habitual das redes sociais.
Podia ser um filhotinho de cachorro dengoso, uma imagem engraçada de tombo, uma oração mais elaborada, um meme político... mas, não. Foi a jovem, Laurinda Gonçalves da Silva Marques, que passando por uma avenida em Santos, viu um idoso em apuros e o ajudou.
Não foi nenhum resgate espetacular de perigo iminente. Um prato de comida salvando o senhor da morte por inanição e, nem tão pouco, uma manobra elaborada de primeiros socorros, a livrar o idoso de um infarto. Nada disso. Sem gestos heroicos. Laurinda apenas se ajoelhou na calçada e amarrou os sapatos do ancião.
Contudo, o gesto de empatia foi tão fora do habitual que, se não tirou as escamas dos olhos das pessoas em volta, ao menos despertou as lentes curiosas do smatphone de um transeunte menos distraído.
O gesto foi fotografado, compartilhado em um grupo de rede social e, logo, transformou a jovem samaritana em meme da semana.
Ao portal de notícias G1, Laurinda Gonçalves disse que não esperava tal repercussão midiática de um gesto tão banal. “Foi uma atitude normal, que eu teria com qualquer pessoa. Não imaginava este alcance. O que eu fiz é uma atitude que qualquer um deveria ter”, lamentou.
No grupo em que imagem foi postada, a publicação ultrapassou 5 mil curtidas e teve diversos comentários positivos parabenizando a atitude da jovem.
Assim caminha a humanidade, tropeçando em pequenos gestos de solidariedade em meio à grosseria geral nas redes sociais.