É a ordem natural das coisas: se você tem filhos, os cria até que eles possam sair de casa e viver no mundo por conta própria. ...
É a ordem natural das coisas: se você tem filhos, os cria até que eles possam sair de casa e viver no mundo por conta própria.
Em alguns países, como os Estados Unidos, a maioria dos filhos sai muito cedo de casa para cursar a universidade em outra cidade. No Brasil, e nos países latinos em geral, os filhos permanecem por mais tempo no lar da família.
Seja como for, é aquela trabalheira de quase duas décadas para cria-los, algumas fases bem distintas, mas sempre os ensinando o certo e alertando contra o errado e, um belo dia, os passarinhos batem as asas e você fica com o ninho vazio, lambendo as molduras das fotografias, contemplando os troféus, os carrinhos e as bonecas deixadas para trás nos quartos vazios. Pronto. Você é um pai ou mãe sofrendo por conta do "ninho vazio".
O que é a síndrome do ninho vazio?
“A síndrome do ninho vazio é esse sentimento de vazio, ansiedade e perda que enche os pais de filhos que saem de casa para fazer o seu caminho no mundo”, define o terapeuta de família inglês, Paul Hokemeyer, PhD, especialista no assunto.
Em termos clínicos, seria diagnosticado como algo chamado de “distúrbio de ajuste ou transtorno de adaptação”, pertencendo à mesma classe de outras transições de vida: como a perda de um emprego; o divórcio; o falecimento dos pais; ou a mudança para uma nova cidade. "A característica subjacente a esses eventos é o profundo impacto que eles têm sobre nossa identidade, diz o Dr. Hokemeyer.
Tony Cassidy, professor de psicologia da saúde da criança e da família na Universidade de Ulster, na Irlanda do Norte, afirma que, embora a Síndrome do Ninho Vazio não seja um diagnóstico clínico, é amplamente reconhecida como a experiencia que os pais sofrem, especialmente as mães, que experimentam tristeza, depressão, solidão, angústia e até uma perda de propósito e significado.
As estatísticas confirmam que a síndrome do ninho vazio está acontecendo cada dia mais tarde ao longo da vida dos pais, já que a idade média das crianças saírem de casa é maior a cada dia, na Europa, por exemplo, os filhos deixam o lar dos país por volta dos 26 anos de idade.
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| A cada geração a maternidade chega mais tarde na vida (image: Rebel) |
Considerando que as mães das últimas gerações experimentaram a maternidade mais tarde na vida do que as suas próprias mães, a síndrome do ninho vazio acaba acontecendo também mais tarde na vida das mães das gerações mais atuais e a experiência acaba se acumulando com outras situações típicas das mulheres maduras de 50-60 anos ou mais.
Ou seja, a síndrome do ninho vazio é um baque que se soma a outros eventos difíceis, incluindo: a aposentadoria, a menopausa, o pico de ocorrência de divórcios dos 55 anos e o falecimento dos pais, padrinhos e tios. Ou seja, é uma avalanche de emoções fortes que acometem os maduros na faixa dos 55-65 anos.
Experiencias de gente famosa
O chef de TV Gordon Ramsay, da versão internacional do programa de competição culinária Master Chef - um camarada conhecido pelo temperamento duro como casca de coco – virou um pudim molenga quando deu uma entrevista falando sobre a experiência de ver o seu filho Jack, saindo de casa para a cursar a universidade em outro país: “Eu fiquei totalmente destruído. Nunca pensei que ficaria assim. Um belo dia entrei no quarto vazio de Jack e encontrei um jeans que ele deixou. Eu vesti e fiquei dias com a calça.”, disse ao jornal inglês The Guardian.
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| Gordon e seu filho primogênito Jack e o temporão Oscar. |
Outro famoso que assumiu o coice da experiência foi o ator Rob Lowe. Em seu livro "Love Life", ele descreveu vividamente o desgosto de mandar seus filhos para a faculdade. Ele tem dois filhos, Matthew e John. "Jesus Cristo, se recomponha, cara!" Eu dizia a mim mesmo. "Há pais que mandam seus filhos para zonas de batalha ou os colocam em clínicas de reabilitação de drogas e você está aí despedaçado porque suas crianças foram estudar em uma universidade chique em outro estado?”.
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| O ator Rob Lowe com o seu mais novo John. |
Juliane Moore é outra que “pirou” quando o seu primeiro filho saiu de casa para estudar. Ela disse em entrevista à publicação italiana Ilo Donna: "Caleb agora está na faculdade, mas Liv ainda está na escola [...] Nem fale comigo sobre isso, eu já estou vivendo uma avalanche de emoções com a ideia de que ela também vai sair de casa em breve! Já fico horas desligada em minhas memórias de quando eles eram novos. Imagine quando ela partir!
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| Juliane e sua filha Liv |
Mais próxima da gente, a queridíssima atriz Gloria Pires, mãe de quatro, Cleo (com Fábio Jr.), Antônia, Ana e Bento (com o cantor Orlando Morais), também sofreu muito com a síndrome do ninho vazio. Em entrevista ao canal de Paloma Duarte no YouTube, a atriz relembrou de quando Cleo, a sua filha mais velha, deixou o lar da família para alçar o seu próprio voo.
– Eu chorava às vezes do nada. Ela vinha na minha cabeça, aquilo cortava meu coração. Mas por outro lado tinha uma realização muito grande, por toda essa expectativa que eu tinha por ela ser a primeira filha mulher. [...] Sinto muita felicidade por ela estar fazendo as coisas, indo em busca do que acredita, se encontrando, sendo o que ela deseja ser.
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| Glória Pires, 56 anos, e suas meninas Cleo, Ana e Antônia. |
Nem todas as pessoas reagem da mesma forma, celebridades ou não.
A síndrome do ninho vazio não acomete a todos os pais da mesma maneira. Alguns reagem melhor e até encontram alegria nessa nova fase da vida.
Foi o caso de Susan Sarandon, atriz, mãe de três filhos, que ao contrário da maioria dos pais, estava ansiosa para esvaziar o seu ninho e passar a ter mais controle sobre o seu tempo. Ainda que tivesse que forçar o voo de uns passarinhos mais preguiçosos, risos!
Ela conta: "O problema é que, quando você tem crianças, é tão cativa dos horários dos filhos, que quando você recebe um convite de trabalho inesperado, ou quer ir a algum lugar, precisa rebolar bastante, pois os filhos são muto dependentes de você. Contudo, quando a liberdade veio, com a partida das crianças, essa me cobrou o seu preço. Veio um vazio muito grande. Foi duro lidar com isso. ", disse ela à revista Bullet.
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| Susan e a filha mais velha |
A atriz Kyra Sedgwick e o marido Kevin Bacon, com dois filhos, também pensavam assim. Disse Kyra: “Há um lado positivo no ninho vazio. Você acorda e pensa: 'O que eu quero fazer hoje?' em vez de 'Como eu posso me espremer na agenda das crianças para conseguir fazer o que eu quero ou preciso fazer?' disse ela ao site Parade. "Contudo, não se engane comigo: ouvir meus filhos passarem pela porta da frente dizendo “olá mamãe” ainda é o melhor som da vida. Sempre serei aquela mãezona sulista pegajosa.", acrescentou.
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| Kyra Sedgwick , Kevin Bacon e filha do meio. |
E quais são os sintomas da síndrome do ninho vazio?
Segundo o Dr. Hokemeyer, os sintomas são aqueles tipicamente associados à ansiedade e à depressão.
"Como pais, queremos que nossos filhos cresçam e ganhem o mundo", diz o Dr. Hokemeyer. "Durante anos, despejamos nossos corações e almas forjando o seu caráter e instrução, preparando a sua partida. Muitas vezes, até fantasiamos sobre a liberdade e as oportunidades de que gozaríamos quando tivéssemos apenas nós mesmos para cuidar, contudo, na hora H, muitos pais se veem atormentados por uma tristeza avassaladora, medo e um profundo sentimento de perda.
Alguns sintomas típicos de síndrome de ninho vazio
Sono interrompido e pesadelos
Quando os filhos saem de casa, muitos pais descobrem que a sua neurofisiologia tem uma forte reação que é desencadeada em sua vida inconsciente e onírica.
Culpa
Muitos pais sentem que não fizeram o suficiente pelos filhos.
Crise conjugal
A chegada dos filhos muda a dinâmica do casamento. A criação também exige ajustes a cada fase do crescimento das crianças. Quando os filhos saem de casa, ocorre uma ruptura no balanço da vida e da relação conjugal. Nesse ponto, muitos casais descobrem que, nos anos em que se dedicaram a criar seus filhos, cresceram separados como pessoas. Se afastaram como amantes. Não há culpados. Afinal, as demandas físicas, emocionais e financeiras da criação dos filhos são extraordinárias.
Compensação imprópria
A síndrome do ninho vazio é dolorosa. Muitos ficam “sem chão”. Outros, buscam em coisas externas formas de preencher o buraco que os filhos deixaram. As formas mais frequentes são o abuso de comida, álcool e drogas lícitas, como remédios tarja preta e ilícitas. Febres de consumo também acontecem e as despesas com cartões de crédito vão às alturas.
O que você pode fazer sobre a síndrome do ninho vazio?
Em primeiro lugar, não se envergonhe pelo que está passando. "É tudo perfeitamente natural. “Somos biologicamente conectados para proteger e nutrir nossos filhos. É claro que nos sentiremos incomodados e diminuídos quando eles deixarem o nosso ninho”, afirma o Dr. Cassidy.
Busque ações concretas para seguir em frente com sua vida. "Volte a se envolver na sua comunidade", diz Hokemeyer. “Faça um curso online ou na faculdade local. Pratique voluntariado, hobbies ou adote um animal.
Reinvente-se, ou se reconecte com os sonhos que você deixou para trás em algum momento da vida. Aproveite a liberdade.
Se necessário, busque ajuda. Não é vergonha buscar terapia. Em tempos difíceis, temos a oportunidade de descobrir coisas importantes.
Finalmente, escreveu Cassidy, “lembre-se, que assim como as estações do ano mudam, nosso relacionamento com os filhos muda e evolui para experiências mais profundas e mais ricas, basta buscá-las.
Com informações de artigos do Dr. Hokemeyer e do Tony Cassidy. E mais declarações de celebridades em dezenas de fontes (sites de celebridades, TV e tabloides citados na matéria).
