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O que está por trás do crescimento do suicídio entre homens idosos?

Precisamos falar sobre solidão e suicídio entre os maiores de 70 anos No início desse triste mês de maio tivemos a notícia da morte...



Precisamos falar sobre solidão e suicídio entre os maiores de 70 anos


No início desse triste mês de maio tivemos a notícia da morte do ator Flávio Migliaccio por suicídio e, para além das costumeiras doses de sensacionalismo na imprensa, vimos horrorizados erros terríveis nas redes sociais com a propagação de imagens do corpo do ator -obtidas pelas próprias autoridades policiais- além de detalhes sobre o método utilizado, motivos, etc. 

Entre desatinos midiáticos diversos, incluindo a tentativa de romantizar o evento a partir de um vídeo de um outro autor idoso famoso, o qual, estranhamente, obteve aceitação em muitos meios por conta da polarização política desses tempos, pensamos que o maior erro foi que, ao fim e ao cabo, todos nós contribuímos, juntamente com a imprensa, para a promoção do suicídio entre os mais velhos.



A organização Mundial da Saúde (OMS) oferece alguns documentos bem acessíveis aos profissionais da saúde sobre como contribuir para o esforço de reduzir suicídios (CONFIRA AQUI). 

Igualmente, a OMS oferece aos profissionais de imprensa valiosas orientações sobre a divulgação de eventos de suicido, visando proteger as famílias e amigos do suicida, bem como, evitar a espetaculização e romantização do fato, coibindo a repetição do gesto pela audiência (CONFIRA O PDF AQUI). 


Entre as muitas orientações aos jornalistas, o documento informa que: nunca se deve divulgar cartas de suicidas, expor o corpo, apurar e divulgar razões e motivações de foro íntimo do autor para o ato, bem como, revelar os métodos e instrumentos da sua consumação. Sendo imperativo lembrar que, diante da nova realidade nas redes sociais, as mesmas orientações servem para todos os que visam o bem comum.



O que diz a ciência sobre suicídio entre idosos


O foco mundial dado nas campanhas de combate ao suicídio é definitivamente ageísta, afirma o Dr. Yoram Barak, da Universidade de Otago na Nova Zelândia, renomada nos estudos sobre envelhecimento. 

A prioridade dada ao suicídio entre adolescentes e jovens adultos é enganadora, afinal, as taxas de morte por suicídio entre homens com mais de 70 anos, nos últimos 10 anos são semelhantes, quando não superiores, às taxas das faixas etárias masculinas mais jovens. 

Na verdade, estudos realizados em 18 países desenvolvidos suportam que os homens Idosos tem mais chance de morrer de uma tentativa de suicídio do que adolescentes e jovens adultos. 

Estatísticas dos departamentos de saúde desses países comprovaram que os homens mais velhos não só cometeram mais atos de suicídio, como também foram mais determinados a acabar com suas próprias vidas, posto que usaram de maior planejamento e método de maior "letalidade" em suas tentativas de suicídio.






Brasil


Os dados nacionais sobre o tema são insuficientes, mas mostram que o Brasil acompanha a tendência global. O Mapa da Violência de 2014 evidencia que, acima dos 60 anos, há oito suicídios por 100 mil habitantes, taxa maior do que a registrada entre outros grupos etários. Entre 1980 e 2012 houve crescimento de 215,7% no número de casos de suicídio entre os idosos.

Assim como visto no estudo de Barak, também no Brasil, os homens são as principais ocorrências.  Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, o diagnóstico registrou entre 2011 e 2016, 62.804 mortes por suicídio, a maioria (62%) por enforcamento. 

Os homens concretizaram o ato mais do que as mulheres, correspondendo a 79% do total de óbitos registrados. Os solteiros, viúvos e divorciados, foram os que mais morreram por suicídio (60,4%). 


Solidão e pobreza


Mundialmente, a solidão e a pobreza são os principais fatores deflagadores de tentativas de suicídio entre os homens idosos. Em geral, os homens tem muito mais dificuldade de lidar com a perda de um parceiro de vida (esposa companheira, etc.) do que as mulheres, informa o Dr. Barak. 

Já a psicóloga brasileira Denise Machado Duran Gutierrez, professora da Universidade Federal do Amazonas, avalia:  “na terceira idade, especialmente quando há doença degenerativa, com perda de capacidade funcional e dor crônica, e quando há perda de laços referenciais e de uma série de suportes, o idoso fica muito vulnerável” e, portanto, propenso ao suicídio. 




A mulher idosa é bem menos susceptível ao suicídio 

Segundo o professor Barak, "As mulheres são muito melhores em manter relacionamentos e a interação social do que os homens. Elas nutrem melhor os laços entre irmãs, amigas e parentes mais distantes

Os homens, quando se aposentam, vão cortando os seus laços com os amigos, em geral colegas de trabalho ou profissão e, por fim, tendem a confiar mais fortemente em suas esposas e na família próxima, como único suporte social e afetivo. Quando há a perda dessa conexão, seja por falecimento, separação, etc. as consequências costumam ser devastadoras.


Ademais, segundo os dados da pesquisa, os homens que enfrentaram dificuldades financeiras tinham "muito mais chances de se tornarem frágeis, adoecer, se tornarem cognitivamente prejudicados e deprimidos" e esses fatores também dificultariam a manutenção de conexões sociais, completando o quadro de propensão ao suicídio.